Para quem acompanha minha página no Facebook, deve lembrar do dia em que postei um livro deixado por uma colega de trabalho em cima da minha mesa. Basicamente foi assim, cheguei do horário de almoço, vi o livro e ao mesmo tempo ela passou na porta e disse: "- Esse você tem que ler!". Claro que fiquei curiosa né?
Quando vi que era um livro de Luis Fernando Veríssimo já gostei, pois conhecia algumas crônicas dele mas não tinha lido nenhum livro. "Os espiões" foi publicado em 2009 e representa todo o estilo do autor. A história é cheia de humor e tiradas inteligentes, ao mesmo tempo que carrega reflexões e dúvidas. Mostra o lado cômico de cada personagem, mesmo dos mais sérios.
É assim que o livro conta a rotina de um escritor que trabalha em uma editora. Sua função é selecionar os originais que chegam com pedidos de publicação. Só que ele vive uma fase bem frustrada, desmotivado tanto na vida profissional quanto na pessoal. E por isso conta os dias para terminar a semana e afogar-se na mesa do bar, até que chegue a segunda-feira novamente. Tem uma parte que me chamou a atenção e achei muito engraçada. Ele conta que a segunda-feira é o dia em que está mais inspirado para escrever cartas de rejeição aos escritores que enviaram manuscritos (rs). Ele escreve: "Recomendo ao autor que não apenas nunca mais nos mande originais, como nunca mais escreva uma linha, uma palavra, um recibo. Se Guerra e Paz caísse na minha mesa numa segunda-feira, eu mandaria seu autor plantar cebolas. Cervantes? Desista, hombre. Flaubert? Proust? Não me façam rir." Hahaha! Gente, imaginaram meu pensamento como escritora? (rs)
Luis Fernando Veríssimo - via jornalnopalco |
Esse início do livro realmente é muito cômico. Mas depois, a rotina do personagem muda de ritmo. Isso acontece quando ele recebe uma nova correspondência (obviamente não em uma segunda...rs), que trazia escrito o primeiro capítulo de um livro de uma autora chamada Ariadne, que morava em uma cidadezinha pequena chamada Frondosa. A autora escreve uma espécie de diário da própria vida. Conta da relação conturbada com o marido e sobre a planejada vingança pela morte de seu amante. Em resumo, promete suicidar-se. E na correspondência se revela que não foi ela quem mandou o original, e sim uma amiga com o intuito de salvá-la da situação.
O protagonista, hipnotizado pela história, chama o livro de "testamento literário de uma suicida."A partir daí, vive em função da espera de cada capítulo. Junta seus amigos de bar e se envolvem num amador plano de espionagem, com ideias mirabolantes e disfarces hilários, com o objetivo de salvar a indefesa escritora do interior das garras do marido gângster. Algo que me prendeu ao livro foi o fato de Veríssimo criar essa trama envolvente e misturá-la com detalhes da mitologia. Sim! Além de colocar uma pitada de mistério na história, ele consegue inserir fatos históricos nela, como a inspiração para o nome da escritora, que veio da paixão do pintor surrealista Giorgio De Chirico pela personagem Ariadne, da mitologia grega. Para quem não sabe, é a filha do rei Minos, que apaixonou-se por Teseu e deu a ele o novelo de linha para sair do labirinto do Minotauro. Lembram? =)
Acho que foi essa grande capacidade de Veríssimo em converter esses fatos todos em uma história despretenciosa, que me encantou. Então entendi o grande mérito do escritor, escrever para todos, de maneira simples, mostrando todo o gigantismo da literatura. E de forma engraçada! Recomendo muito a leitura de "Os espiões". O livro é pequeno (174 páginas) e a leitura é fácil e rápida. Dependendo, dá para ler em um dia. E agora também entendi a intenção da colega em me emprestar o livro. Por isso nunca recuso uma leitura que cai nas minhas mãos sem eu fazer esforço. =)
Beijos!
2 comentários:
Só conheço as crônicas e fiquei curiosa pelo livro. Adoro descobrir novas indicações, apesar da lista já ser bem numerosa...
As suas resenhas são ótimas, inteligentes e com muito conteúdo!
bjs,
legal! foi pra minha lista! ah, o zafón tb já está na lista! rsrs bjs!!
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