18 de janeiro de 2016

Eu li #42 - A Filha da Noite

Oi gente!

Mais uma leitura concluída e quem me acompanha sabe, de uma das minhas autoras preferidas. Marion Zimmer Bradley escreveu "A Filha da Noite", em 1985, inspirada na ópera "A flauta mágica", composta por Mozart e escrita por Emanuel Schilaneder, diretor de um pequeno teatro no subúrbio de Viena. Quase 200 anos depois de sua estréia na Alemanha, em 1791, ela transformou a ópera em prosa. Descobri que a história ainda é encenada nos dias de hoje, então a leitura desse livro aguçou minha curiosidade em assistir.


Falando um pouco do motivo da inspiração, a ópera que deu origem ao livro trata da filosofia do Iluminismo. Conceitos de liberdade, igualdade e fraternidade vem à tona em vários momentos. O espetáculo foi produzido no século XVIII, um período da história em que o pensamento do homem se modificava radicalmente, questionando relações de poder e valorizando a sabedoria como único meio de justiça e igualdade entre os homens. Dizem também que a ópera teve influência maçonica, pois tanto Schikaneder como Mozart faziam parte. O fato é que seu trabalho quebrou paradigmas sociais de forma ousada. Cantada em alemão, a ópera foi um grande sucesso na época, embora obviamente não recomendada pelos aristocratas. A música erudita tornou-se acessível ao povo, e agradou.

A ária da Rainha da Noite com a soprano Diana Damrau. Versão completa aqui.
E sobre a história? Vamos lá! Se passa em um mundo onde há homens, animais e halflings. Esses últimos na verdade são seres híbridos, uma mistura de homens com animais que eram tratados como escravos. E embora não haja nenhum híbrido em nosso mundo, sabemos que a história é recheada de crueldades e escravizações. Ou seja, não me espantou nem um pouco. No início então ficamos sabendo sobre a origem dos halflings. Conhecemos a Rainha da Noite, Pamina, Sarastro, Tamino, Papagueno e Papaguena (personagens principais) e seus papéis. Em resumo, Pamina é roubada da Rainha da Noite (sua mãe), por Sarastro, e Tamino é contratado para resgatá-la. Dá-se origem a uma jornada que traz uma extensa simbologia sobre lealdade, liberdade, coragem, humildade e autoconhecimento. 


Eu traduzi tudo isso como uma jornada de aprendizado para evolução espiritual. No final das contas, um livro que parecia ser infanto-juvenil, é totalmente adulto e me trouxe uma profunda mensagem através de simbolismos geniosos. Por exemplo, Pamina quando foi raptada acreditava em tudo que lhe diziam, sequer questionava as crueldades que a Rainha da Noite praticava contra os halflings. Tamino por sua vez, de um príncipe mimado tornou-se um homem corajoso, capaz de ponderar toda e qualquer questão que lhe fosse apresentada. Mas nenhum deles aprendeu tudo isso sem passar por várias provações e questionamentos. Percebi uma metáfora do caminho que cada um de nós percorre em vida, onde precisamos escolher entre sucumbir ao mundo cruel que nos é apresentado, ou fazê-lo dele um lugar melhor praticando valores cada vez mais esquecidos.

Concluí também ser uma fábula sobre o amor. No seu sentido incondicional e pleno. Tanto o casal Pamina com Tamino, quanto Papagueno e Papaguena (halflings), com seus próprios limites e dons, são provados em sua jornada pessoal e também em conjunto. Para sobreviverem e provarem seu amor, precisam aprender a confiar um no outro e buscar a sabedoria.


Em poucas palavras, um livro marcante e com final surpreendente. Vale a pena a leitura. E a cereja do bolo? Estava no final, nos comentários da autora, falando um pouquinho sobre escrever fantasia e ficção. E mencionando é claro, a genialidade de Tolkien. Registrei sim, é comum escritores inspirarem-se em outros, mas não é sempre que um leitor fã de dois escritores encontra um mencionando o outro no final de seu livro. =)

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Beijos!

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