Hoje é Dia do Contador de Histórias e uma das coisas que eu gosto mesmo é sentar, soltar a imaginação e escrever muitas histórias para que os talentosos contadores entrem em ação!
Então trouxe uma delas para compartilhar com vocês. Esse conto faz parte da coletânea de contos infanto-juvenis, "O diário de Lirityl", um de meus livros publicados. Espero que gostem e deixo os meus parabéns a todos os contadores de histórias!
Ilustração: Elsa Bescow (postagem sobre ela aqui). |
A DESCOBERTA DE SARA
Sara era a Rainha do Castelo de
Cristal. Em seu reino, não existiam batalhas, porque ela nunca se declarava
inimiga de ninguém. Procurava resolver os assuntos do reino pacificamente e quando não era aceita por algum governante de um reino vizinho, convencia-o que sempre era possível um entendimento quando as pessoas estavam dispostas a dialogar.
Certa vez, um desses governantes,
depois de negociar um tratado com Sara, questionou tão grande habilidade. Ainda
em seu castelo, olhou para a tapeçaria na parede e os belos enfeites dourados
que abrilhantavam o salão e perguntou:
- Gostaria de entender, senhora
Rainha, como consegue ser tão rica e tão benevolente?
- Para ser rico, meu Senhor, não é
preciso espalhar o mal. – respondeu ela.
E, depois de convidá-lo a sentar,
contou uma história:
- Eu era muito pequena ainda, - dizia
a Rainha Sara - e brincava no jardim do castelo. Tinha o costume de correr por entre
as árvores até cansar, depois me deitava na grama e ficava imaginando desenhos
nas nuvens. Foi em um final de tarde, quando o céu já avermelhado escondia o
sol entre as montanhas. Ao contornar um grande carvalho, me deparei com uma
abertura no seu tronco, de onde saíam várias criaturas enfileiradas, como se
estivessem cumprindo algum dever. Os serezinhos eram bem pequeninos, mas muito
delicados e gentis. Marchavam com pompa e atentamente observavam o chão,
evitando tropeçar e perder o ritmo constante da fila disciplinada. Aquele que
encabeçava a fila olhou para cima e me viu, mas não demonstrou preocupação. Levantou
uma das mãos para o alto, e esse gesto foi o suficiente para que todos parassem
em um mesmo passo. Perguntei quem eles eram.
- Somos o pequeno povo, - respondeu
ele.
- Sua roupagem, - continuou Sara -
era esverdeada e sua postura denunciava uma posição soberana entre eles. Eu sentei na grama para me sentir mais
próxima e iniciei uma conversa, perguntando o que faziam e se moravam dentro da
árvore. Sempre me senti sozinha e queria muito ter amigos. Eles se tornaram
minha companhia diária por muitos anos, até que um dia, precisei assumir as
funções de meu pai e meu tempo não permitiu mais compartilhar com eles minhas tardes no
jardim. Mas o pequeno povo me ensinou muitas coisas e, dentre todas, a mais importante.
- E qual foi? – perguntou o
governante.
- Que, para ser respeitado, não é
preciso força, e sim o próprio respeito. Para ser exemplo, não é preciso possuir ouro,
mas riquezas nas atitudes. Nem tampouco é necessária a batalha para ganhar uma
guerra, quando as palavras gentis se tornam suas melhores armas.
E finalizou:
- Hoje eu sou Sara, a grande Rainha. E
aprendi a lição da humildade com um povo, que de tão pequenino é ignorado pelos
que se acham grandes demais para prestar atenção às pequenas coisas. Por isso,
meu Senhor, se quer que seu reino progrida e seus descendentes bem o governem,
plante carvalhos em seu jardim e deixe que as crianças corram à vontade por entre
eles. Porque, uma vez aprendida a lição, nunca mais é esquecida.
O governante partiu e fez exatamente o que Sara lhe ensinou. Durante muitos anos,
os reinos vizinhos foram prósperos, e seus governantes negociaram tratados sem
disputa, guerras ou cobiças.
1 comentários:
Ale, vc não tem ideia de quantas vezes eu ja li e reli pra Mariana, e até o Leo gosta da Lirytil... rsrsrsr. Obrigada por dividir seu talento conosco, e um viva aos contadores de estórias, que sabem encantar. Beijos Ale e boa semana! ♥
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