Quando ganhei de presente da Eli Trevellin o “Noite do Oráculo”, há mais
de dois anos, não me empolguei tanto para a leitura, apesar de ouvir que ele é
perfeito para quem gosta de escrever. Agora, chegou a vontade e após a leitura
a confirmação: Realmente, é um livro que todo escritor deveria ler.
Dizem os críticos que Paul Auster tem talento para
histórias que parecem um labirinto, assim como Borges (que vergonhosamente ainda
não li). Em “Noite do Oráculo” ele aborda a questão da identidade, porém de
forma extremamente criativa, entrelaçando várias histórias e deixando nós,
leitores, decidirmos em qual delas (ou em todas), mergulhamos.
O livro de Auster tem três histórias, uma se
encaixando na outra, sem falar nos paralelos que fazemos com a vida do autor,
enquanto corre a leitura. Começamos conhecendo o personagem Sidney Orr, que é escritor, porém se recupera de uma doença que o deixou inativo por muito tempo. Ao
animar-se em voltar à ativa, entra em uma estranha papelaria no Brooklyn e
compra um caderninho de anotações, com capa azul e importado de Portugal. E de forma surreal, ao começar a escrever no caderno,
sua criatividade aflora novamente e as anotações tomam um rumo inesperado, que
surpreendentemente se misturam com a vida do autor.
Agora entendo porque o livro divide opiniões. “Noite
do Oráculo” exige do leitor redobrada concentração e a mente aberta para descobrir suas camadas e perder-se propositalmente e positivamente no cruzamento das
histórias.
Só para deixar um gostinho a mais, a história que
Sidney começa a escrever no caderninho azul é sobre um editor chamado Bowen,
que após receber o original de um romance para analisar, salva-se
milagrosamente de um acidente na rua e decide largar sua vida e fugir para
longe. Pega o primeiro avião que encontra, rumo a Kansas e, chegando lá,
descobre que sua mulher, ao saber do desaparecimento e por medidas de
segurança, cancela seus cartões de crédito. Sem dinheiro, pede apoio a um
recente conhecido, que é ex-combatente da Segunda Guerra e mantém um espaço
subterrâneo escondido, onde guarda segredos. Nesse meio tempo, começa a ler o
manuscrito do romance, que conta sobre um soldado que fica cego durante a
Primeira Guerra Mundial e ganha poder de ver o futuro. Ufa!
Então, basicamente estas são as três histórias que se
misturam. Mas não espere um desfecho normal para elas (acho que é isso que irrita
muitos leitores), porque o que você vai encontrar nelas é algo bem diferente: uma
complexa alegoria sobre o poder das palavras!
Será que os escritores têm o poder da premonição? São capazes de escrever o futuro ou determinar situações reais?
Será que os escritores têm o poder da premonição? São capazes de escrever o futuro ou determinar situações reais?
Personagens não faltam e cada um deles vai permear um
pouco do desfecho do livro, seja o chinês MR Chang, que é o dono da papelaria, ou
John Trause, grande amigo de Sidney e sua esposa, que também guarda segredos do
passado,
ou Sylvia Maxwell, neta da autora do manuscrito que é
entregue à Bowen. É por isso que, se o leitor tentar ler as histórias como
independentes e não se render ao cruzamento delas, não vai mesmo achar graça no
livro e não vai captar o que define o rumo da história. Eu recomendo o desafio. Se você não gostar,
abandona e tá tudo bem.
Boa leitura!
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