Como estão todos? Hoje passei para comentar uma leitura recente, "O Castelo de Papel", da historiadora Mary del Priore. Os livros da Mary abordam muito da História do Brasil e só por isso já são motivos para dividir opiniões. Foi minha primeira experiência com a autora.
"O Castelo de Papel" mistura romance com fatos históricos, baseados principalmente em pesquisas das cartas da Princesa Isabel e seu esposo Conde D'Eu, tornando o livro quase uma biografia do casal. Aliás, foi um dos aspectos que gostei, conhecer melhor este personagem que até então me era desconhecido, tanto quanto o fato de que Isabel casou-se com um estrangeiro, pois o Conde era neto do rei deposto da França, Luis Felipe I. O livro nos conta então sobre sua formação, seu papel na Guerra do Paraguai (que é bem contraditório com outras fontes que pesquisei), sua relação com o sogro (D. Pedro I), focando na relação conjugal com a Princesa.
O recurso que a autora usou foi demonstrar estes fatos de forma a humanizar os personagens. Temos aquelas impressões sobre o Segundo Reinado dos livros de História, ou artigos em linguagem acadêmica, mas aqui ela traça os perfis psicológico dos personagens com maior naturalidade. A própria Princesa Isabel é retratada diferente do que conhecemos, uma mulher típica do século XIX, que sonhava com uma família, era religiosa e preferia o refúgio de sua casa em Petrópolis às reuniões políticas.
Conhecemos então, através de uma narrativa fluída, a vida do casal desde o casamento arranjado que acabou se transformando em um amor sólido e companheiro, em paralelo com as transformações que o Brasil passava com os movimentos abolicionista e republicano. Dom Pedro nos é apresentado com uma personalidade egocêntrica e sisuda, sempre evitando envolver o casal nas decisões (o Conde por ser estrangeiro e Isabel por ser mulher), deixando-os responsáveis apenas em caso de ausências ou doença. Também acompanhamos a Condessa de Barral, mulher muito à frente da época, sempre influente e aconselhando o jovem casal.
O recurso que a autora usou foi demonstrar estes fatos de forma a humanizar os personagens. Temos aquelas impressões sobre o Segundo Reinado dos livros de História, ou artigos em linguagem acadêmica, mas aqui ela traça os perfis psicológico dos personagens com maior naturalidade. A própria Princesa Isabel é retratada diferente do que conhecemos, uma mulher típica do século XIX, que sonhava com uma família, era religiosa e preferia o refúgio de sua casa em Petrópolis às reuniões políticas.
Conhecemos então, através de uma narrativa fluída, a vida do casal desde o casamento arranjado que acabou se transformando em um amor sólido e companheiro, em paralelo com as transformações que o Brasil passava com os movimentos abolicionista e republicano. Dom Pedro nos é apresentado com uma personalidade egocêntrica e sisuda, sempre evitando envolver o casal nas decisões (o Conde por ser estrangeiro e Isabel por ser mulher), deixando-os responsáveis apenas em caso de ausências ou doença. Também acompanhamos a Condessa de Barral, mulher muito à frente da época, sempre influente e aconselhando o jovem casal.
O mais curioso para mim no livro, foi a desmistificação da Princesa Isabel como a salvadora dos escravos, ou "A Redentora", como é definida em vários livros de História. Pela visão da autora, a libertação dos escravos foi mais o resultado inevitável de anos de luta dos abolicionistas, do que a decisão pontual de uma mulher que, aproveitando uma viagem de Dom Pedro I, colocou a mão na consciência e decidiu por fim à escravidão no país. Segundo o livro e também em algumas cartas, a impressão é de que Isabel não queria governar, não tinha interesse em assuntos políticos e não foi preparada de forma alguma por seu pai para tal função. Fatos que indicam os motivos de tudo ter culminado para a exílio da família real e a Proclamação da República. Obviamente não deixamos de perceber as heranças que pairam no Brasil até hoje: maracutaias políticas, troca de favores e mudanças repentinas favorecidas por interesses do momento. Isto é nítido principalmente depois da queda da monarquia.
Temos em "O Castelo de Papel" um romance baseado em fatos pesquisados nas cartas dos protagonistas, mas também fiquei com a impressão de que a autora foi um pouco tendenciosa em sua narrativa. Além do protagonismo do Conde D'Eu na Guerra do Paraguai, que descobri gerar muitas controvérsias que discutem, ora uma participação positiva, ora negativa, há também esse aspecto sobre a Princesa Isabel abordado no parágrafo anterior. Existe uma carta da Princesa Isabel destinada ao Visconde Santa Victória, que era sócio do Barão de Mauá. Devem existir outros documentos arquivados na Biblioteca Nacional, mas esta carta percorreu alguns sites e blogs nas redes sociais, e eu a encontrei em uma matéria do Jornal de Brasília, de 2017. Nesta carta se percebe muito interesse da Princesa em amparar os escravos libertados, que estavam em situação de pobreza e sem perspectiva, inclusive citando que seu próximo passo era se dedicar a libertação das mulheres "dos grilhões do cativeiro doméstico". Essa afirmação no mínimo vai na contramão da personalidade de Isabel exposta em "O Castelo de Papel". Fica aqui o link caso queiram conferir, só clicar aqui.
Qual a versão correta da Princesa e demais personagens eu não sei dizer, não sou historiadora e não me compete opinar além das minhas impressões de leitura. Se você ficou curioso, sugiro que leia e tire suas próprias reflexões, ou conclusões. Gostei do livro, da narrativa acessível, das informações novas para mim. Inclusive já estou com outro livro da autora aqui para ler. De qualquer forma, livros que nos suscitam questionamentos e nos trazem releituras da História do Brasil, são sempre bem-vindos por aqui. Me ajudam a entender muito do comportamento atual, seja dos governantes ou do próprio povo brasileiro.
Boa leitura!
2 comentários:
Ótima resenha, Ale, sou seu fã, amigo e admirador, desejo-te todo sucesso do mundo. Continue fazendo a sua parte para um mundo mais inteligente e culto, um abraço.
Há controvérsias sobre a autoria da carta atribuída à da Princesa Isabel para o visconde de Santa Victória. Sugiro o vídeo do historiador Paulo Rezzutti, disponível no YouTube, sobre o assunto.
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