7 de setembro de 2020

EU LI: O Cortiço (Aluísio Azevedo)

Oi gente!

Ainda não tô conseguindo gravar vídeos, mas acho que é uma questão de dias (eu espero!). Por enquanto, vou comentando por aqui sobre minhas leituras mais impactantes. Como foi o caso de "O Cortiço", de Aluísio Azavedo, que li no mês passado junto com o Carlos, do canal @livroseebooks. Sempre tive receio de ler essa obra, lembro que tinha uma edição antiga que até doei sem me encorajar em fazer a leitura. Até que consegui essa edição moderna e comentada da Panda Books (que aliás tem uma coleção de clássicos neste formato e tô bem animada para ler alguns!), agora foi!


"O Cortiço" foi publicado em 1890 e é uma das obras nacionais que mais representam o naturalismo. A história é um retrato das condições de vida das classes mais baixas no Rio de Janeiro da época. Acompanhando o dia a dia dos moradores do cortiço, 


O principal personagem é João Romão, que construiu o cortiço após receber uma quantia de um português, para o qual trabalhou muito. Morava com Bertoleza, uma ex-escrava que fugiu dos seus antigos donos e até então João não tinha muitas preocupações além de aumentar seu capital. Até a chegada de Miranda, seu vizinho, que lhe despertava inveja pelo status e títulos que possuía, vindo a tornar-se seu maior rival. 

"O Cortiço" é narrado de forma linear, em terceira pessoa como narrador onisciente. Além da ambientação do cortiço, são apresentados ao leitor cenas da história que se passam na pedreira e na taverna, também são propriedades de João Romão, que na história simboliza o capitalismo desenfreado, pois usa de muitas artimanhas, inclusive explorar e enganar pessoas, para obter lucros e riquezas. O romance tem muitas descrições, explorando características e comportamentos dos personagens, cujas vidas são retratadas a cada capítulo, entrelaçando-se para enfrentar a pobreza, abandono e maldades.



No Brasil, "O Cortiço" é a obra mais emblemática do movimento literário naturalista. Por isso, a história mostra muito da degradação social dos moradores do cortiço, bem como sua animalização, em muitas partes marcadas pela violência e instintos sexuais. Segundo o naturalismo, o meio influencia diretamente o comportamento das pessoas, então não vemos muitos desfechos "felizes" na história. Em vários núcleos são ressaltadas a desigualdade social, ambição, promiscuidades, entre outros. 

A obra retrata muito bem a sociedade brasileira do século XIX e se apresenta bem atemporal em alguns aspectos, como comportamentos em busca da ascensão social, tão bem representado no protagonista João Romão. Muitos outros personagens sejam importantes na trama, como Jerônimo, o português que administra a pedreira, e Rita Baiana, uma mulata toda sedutora que a princípio tem um caso com Firmo que representam a mistura de raças. 

Um detalhe interessante em "O Cortiço" é a característica marcante e presente nas obras naturalistas, onde o cortiço em muitos trechos é personificado, como personagem principal, enquanto os personagens humanos são animalizados. Este trecho é um exemplo da personificação do cortiço: Eram cinco horas da manhã e o cortiço acordava, abrindo, não os olhos, mas a sua infinidade de portas e janelas alinhadas. Um acordar alegre e farto de quem dormiu de uma assentada sete horas de chumbo. Como que se sentiam ainda na indolência de neblina as derradeiras notas da ultima guitarra da noite antecedente, dissolvendo-se à luz loura e tenra da aurora, que nem um suspiro de saudade perdido em terra alheia.” Já a aproximação do homem com o animalesco pode ser observada em várias metáforas utilizadas pelo autor, comparando os personagens com animais selvagens ou até mesmo plantas.



As personagens femininas marcantes da obra me chamaram a atenção. Temos a Piedade, a típica representante dos valores europeus da época, esposa recatada de Jerônimo. Temos a Pombinha, que leva algum tempo para se descobrir mulher, até deixar a pureza de lado e se tornar prostituta. A Estela, esposa infiel que levou o Miranda a mudar-se para o bairro do cortiço. Mas nenhuma merece tanto destaque como a Rita Baiana, representante fiel do imaginário da mulher brasileira: alegre, sensual, fogosa, dançante e fã dos pagodes e rodas de samba. Sempre otimista apesar das mazelas. Na minha opinião Rita Baiana é a personagem mais popular da história, que se destaca independente das suas participações na trama (até porque eu não concordaria com algumas atitudes suas), pelo modelo de exaltação da mulher que ela nos passa. Os capítulos com a Rita Baiana são cheios de brasileirismo, alegria, positividade, apesar da pobreza ambientada ao seu redor.


"O Cortiço" leva ao leitor muitos acontecimentos que marcaram a época retratada. Trabalho assalariado, desenvolvimento de setores secundários, novas categorias sociais, chegada de imigrantes, mescla de raças, descobertas na área científica e escravidão. Ambientação inspirada nos cortiços da época, espaços demarcados por construções precárias e sufocantes. Uma importante fonte literária para entendermos nosso Brasil antigo e fazermos uma análise social para infelizmente percebermos que muitas coisas ainda não mudaram em nada.

Estudiosos apontam como principal inspiração para Aluísio Azevedo escrever "O Cortiço", a obra do francês Émile Zola, "Germinal", que também usou seus personagens para gravitar em torno da narrativa, de modo a expor as questões naturalistas. Sabendo disso, a curiosa aqui resolveu então conhecer a obra de Zola, e enquanto publico esta postagem, devo estar já na parte dois ou três do livro. E já posso adiantar que sim, tem muitas semelhanças com a obra de Aluísio. Mas isso é assunto para outra postagem, ou vídeo. Logo volto com as atividades no canal!

Beijos!

1 comentários:

Carlos disse...

Maravilhosa resenha da obra!