Oi gente!
Hoje encerro as postagens das aulas da matéria do mestrado. Fecho com chave de ouro, comentando um pouco sobre o livro que tive o prazer de escolher como meu tema de apresentação e que me trouxe uma gratificante experiência de análise e leitura: "Uma Viagem à Índia", de Gonçalo M. Tavares.
Falando um pouco do autor, Tavares nasceu em 1970 em Angola, já foi premiado e seus livros foram traduzidos para vários idiomas. Um de seus livros mais renomados, "Uma Viagem à Índia" trata-se de um romance escrito de forma epopeica, dividido em dez cantos, sendo que cada um divide-se em estrofes, que também podem ser lidas de forma aleatória e separada. Sim, é uma experiência incrível!
O livro conta-nos a história de Bloom que após uma série de acontecimentos trágicos que serão contados durante o decorrer da ação, decide partir de Portugal para a Índia, pensando em adquirir sabedoria e libertar-se do passado. Bloom acredita que é impossível viajar à Índia sem passar por diversos lugares antes de alcança-la. Para ele, a Índia não é uma mera localização geográfica, mas sim um estado de espírito.
O livro faz um paralelo com "Os Lusíadas" de Luis Vaz de Camões e também com "Ulisses" de James Joyce, onde ele vai buscar o nome do personagem. Mas apesar das referências, é uma obra original e muito bem escrita. Bloom tem sua inspiração maior em "Ulisses", de James Joyce, porém ao invés de concentrar a sua "odisséia" em um só dia, a faz durar meses, se metendo em confusões e encrencas.
Este Bloom de Tavares, que vive em 2003, parte e volta sozinha de sua viagem física e mental. Ele viaja para esquecer o passado e viver o presente sem laços. Ao fazer o personagem demorar-se em cada paragem, nunca revelando pressa, Tavares manifesta a sua posição em relação ao excesso de velocidade a que opera o mundo no século XXI. Excesso este responsável pelo tédio nas sociedades dos dias de hoje. No presente ambiente de excesso de consumismo (senso) e de experiências instantâneas, o homem procura constantemente novas sensações, viajando entre emoções na esperança de se sentir alguma espécie de felicidade, ainda que transitória e passageira.
O maravilhoso do livro não é a história, mas sim o personagem e sua caminhada. Bloom não é um herói, é um ser humano como todos nós, com mágoas e alegrias do passado, buscando respostas para construir um futuro melhor. Nesse caso o caminho físico nada mais é do que um deslocamento interno pelo sentimento de culpa, tédio, fuga e busca da sabedoria. Imaginação não é distante da realidade. Quem imagina também parte de elementos do mundo.
Em "Uma viagem à Índia", Bloom também se entrega a essas alegrias passageiras para escapar ao tédio que o domina durante a viagem, particularmente no seu regresso da Índia, depois de descobrir, ou melhor, depois de confirmar que tudo o que acreditou ser aquele país mágico e místico não passava de uma mentira.
A viagem termina precisamente com aquilo que fez com o que protagonista iniciasse a sua fuga - um assassinato, que significa que nada deu resultado, tudo voltou ao mesmo, à semelhança do que aconteceu com o tédio, a indiferença. "Chega à Lisboa, nenhum ódio o recebe e nenhum amor". Mas essa libertação temporária que sentiu não dura muito, dando lugar ao pânico e ao medo que o levam a regressar, agora com pressa, à Lisboa, onde apenas encontra o vazio.
O final da aventura de Bloom é melancólico e nele se revelam finalmente, de forma bastante intensa e profunda, todo o desencanto e todo o tédio que o acompanham ao longo de seu percurso. Uma mensagem de que preocupamo-nos muito com o que é a vida, com a busca da felicidade, com grandes acontecimentos, e acabamos paralisados de tanto pensar, não percebendo que a cada dia a vida passa, e somos nós que não damos peso ao que nos acontece.
Garanto a você que a leitura da apopéia de Bloom marcará para sempre sua experiência como leitor!
Boa leitura!
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