18 de janeiro de 2022

EU LI: VIDAS SECAS (GRACILIANO RAMOS)

Oi gente!

Comentei no meu último vídeo sobre as melhores leituras de 2021, que lendo "A Besta Humana" de Emile Zolá, lembrei muito de "Vidas Secas", de Graciliano Ramos. Zolá no seu livro humaniza a locomotiva e animaliza as pessoas, similar ao que Graciliano faz com a cadela Baleia, que aliás me cativou muito quando li. Bom, como não tinha deixado minha opinião sobre esse clássico nacional, nem aqui nem no canal, resolvi registrar minhas impressões sobre essa leitura que fiz lá por meados de 2016.


Graciliano Ramos (1892 – 1953) é conhecido pela sua literatura riquíssima em vocabulários nordestinos e “Vidas Secas”, uma das obras mais significativas do autor, foi escrita entre 1937 e 1938 e retrata uma situação muito fiel ao povo nordestino: a seca. A narrativa em terceira pessoa mostra o ponto de vista de cada personagem no decorrer do livro, explorando não só os cenários externos, mas também os seus conflitos psicológicos.

O drama é de uma família sertaneja, cuja rotina de vida é vagar procurando terra fértil que permita sua ocupação temporária. Um livro que me fez acompanhar o sofrimento de uma família oprimida pelo sistema, buscando sobreviver à seca que assola o sertão. Composto por 13 capítulos, a maestria da escrita de Graciliano se fez presente quando reparei que o autor nos dá a liberdade de lermos em qualquer ordem, porque cada capítulo dá voz a um personagem e tem seu enredo próprio. Porém, ao terminar o livro percebi que, embora os capítulos sejam independentes, existe uma forte ligação entre o início e fim da história, que perde a força se lidos em separado.

Nos primeiros parágrafos do livro, Graciliano nos descreve o cenário e apresenta os personagens. Para depois nos fazer perceber que cada membro da família, do seu jeito, possui sonhos e anseios. Fabiano (o pai), Sinhá Vitória (a mãe), os dois meninos e Baleia, a cachorra, que de tão solidária, é inevitavelmente humanizada pelos leitores.

Essa humanização de Baleia, a propósito, me chamou muito a atenção no livro. Os personagens, embora dotados de sentimentos, mostram-se brutos, sem dar-se a diálogos ou manifestações de relacionamento humano. Já a Baleia, com gestos e olhares, descreve com detalhes a realidade da família, sem deixar de lado seus sonhos particulares. Difícil não se encantar com a Baleia. Observadora e sensível, destaca-se no livro até mais que os próprios meninos, que são chamados de “mais novo” e “mais velho”, simbolizando pela ausência dos nomes toda uma identidade das vítimas do descaso social.

Fabiano e sua família enfrentam, além dos males externos como a seca, a fome, a exclusão e injustiça, também seus conflitos internos. Muito do interior dos personagens é explorado. Em cada capítulo, adentrei em suas percepções individuais, como se me sentisse parte daquela família. A profundidade da escrita me levou a construir a sequência de vida de cada personagem, ao mesmo tempo que me fez desenhar um cenário geral da luta pela sobrevivência com a seca no Nordeste.

"Vidas Secas" nos obriga a refletir sobre o "ter" e o "ser". Sobre nossos costumes, nossas facilidades, nossa comodidade. E com isso nos leva a reflexões mais profundas, como nossa falta de coragem em soltar as amarras que nos aprisionam. Nos leva a perceber uma realidade tão distante, conduzindo-nos a nos imaginar dentro dela. E se? Como seria? 

Graciliano Ramos fez de "Vidas Secas" uma das maiores críticas regionais na época e com isso, tornou-se um dos mais importantes autores da segunda fase modernista.

Eu, se fosse você que ainda não leu, leria para ontem.

Boa leitura!

1 comentários:

Carlos disse...

Faz algum tempo que li esse espetáculo de livro - doce, poético, doloroso. Uma obra de maestria sem igual. Graça, sem dúvida, é uma das (muitas) joias da nossa riquíssima Literatura!